1 de abril de 2010

Contradições

O que fiz! De tão grave que me cobras, tão alto preço.
Nesta longa jornada.
Por quais caminhos andei anteriormente, para que hoje.
Eu viva no meio de escombros e submundos.
Me deixas ver a luz e não me deixas usufruí-la
Como uma condenada obrigada a carregar nos pés
Os seus grilhões, para não esquecer os erros passados...
Quantas pedras atiraram através do tempo, para que regressem.
Com tamanha fúria, atingindo este alvo, que desconhece a razão,
De tamanha cobrança, que sente o bloqueio se fechando a cada dia,
Com medo das próprias palavras, o peso dos gestos nas mãos vazias.
Onde a lucidez e tão cobrada, e a coerência nos atos e tão exigida
Não admite vacilação, o traje esconde-me do mundo interior,
A cada dia deixo um pouco menos de ser eu, o que o mundo me exige não tem limites...

O que sei é que me fiz forte em algum momento do tempo,
Para fugir do anonimato e a cada dia, fui deixando de mim
Em busca de uma imagem que também não sou e que nunca poderia
Chegar a ser...
Porque?... Porque nunca tive estrutura, não tive base e muitas,
Das minhas raízes se tornaram cinzas, antes mesmo de chegar ser uma chama.

De onde vim? ... De muito além do tempo, um sopro de ar.
Que se projetou no espaço querendo ficar!
Quando não havia lugar... Por teimosia forçou este lugar.
Sem medir quanto isto viria a custar, no decorrer deste laço.
Tão sem espaço definido, acreditando que poderia ser diferente, esqueci que viriam as cobranças com redobrada fúria.
Pois quanto mais abro exceções, mais deixo de ser eu,
Quanto mais corro em busca da imagem, mais eu me anulo,
Lutando e entrando em guerra comigo mesma.


A cada dia fica mais difícil conviver entre dois pólos
Que criam momento de pressão constante entre o ficar
E o partir, o ser e o não quererem ser, pois o forte fica fraco
O fraco se perde. De repente o forte se sente fraco
E o fraco não tem estrutura para amparar o forte
Que se torna fraco. Aí só existe uma saída,
E a fuga do forte, causa instabilidade no fraco,
Que já vive em fuga constante, tentando se proteger.

Se agarrando a fios tão frágeis de sonho, pois a realidade é triste e amarga... é sangria lenta...
A dor moral do não Ter nada, da representação nula,
Física e moral, mostrando a consciência do presente
Me projeta o espaço vago o qual ocupo, me tornando
Extremamente sensível, a querer um gesto,
Que nunca tive, pois que não existo... Sou duas imagens
Que se confundem se tornando nada...

As vezes acho que sou apenas a fantasia que se alonga
Tomando formas sem nunca obter contornos definidos,
Que se visualizem do lado de fora...
Que a um simples gesto ou toque se fecha.
Não se permitindo uma linha no horizonte concreto,
Pois é apenas o abstrato que se delimita...Porque?
Porque dói saber, que não se existe realmente,
Para nada, para ninguém. Quando se é uma ilha
Cercada pela multidão desapercebida, pouco importando,
O tamanho do caos, então porque a insistência na luta,
Que valor terá, quem se importará se seguir ou parar.

O preço... Sinto que existe e o tenho pago tão caro
Sei que existem tantos atalhos, que atraem, tirando,
O sentido do seguir em frente, principalmente quando,
Se perdem as metas na trajetória da luta inglória .
Pergunto eu! Por quais razões nos tiram o direito
Da escolha, do caminho a percorrer ou a continuidade de seguir por este ou por aquele...
Não existe Senhor!
O medo do partir e sim o do Ter de ficar no anonimato
Das imagens mal projetadas.



Da carência que se torna desconhecida, e essa dor imensa.
Que me leva à solidão infinita, essa dor maior que toda,
Multidão não encobre. Que me leva a procurar o vazio
Das estradas noturnas, onde me acho no vazio do nada.
Indo ao extremo de lugar nenhum, onde posso gritar.

A minha dor ao infinito vago, na ânsia de ser ouvida.
Por Ti Senhor!
Que tantas vezes me esqueces, te tornando surdo aos meus lamentos. Te pergunto até onde? Até quando?
Esconderás o Teu Rosto, se não invejo ninguém,
Porque ele existe e cria, não invejo o que se toca.
Ou que use palavras ou gestos, pois tudo isso passa.
Acredito na dor, que não se cria, que apenas aparece,
Que se sente lenta ou esmagadora, a que não se sabe;
De onde vêm, a que dilacera a todos.
Essa eu conheço, tanto... Que sem ela não seria capaz
De perceber todo o resto.
Como por exemplo,...
Conviver entre duas imagens sem sentido e sem
Lugar comum...
Para poder esconder também de Ti Senhor!
Toda minha dor e toda solidão que me deste um dia
Por companhia...

Ana Paula Siqueira

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